Encantaria chega ao Teatro de Sobradinho com sessões gratuitas
Montagem dirigida por Ricardo César revisita o mito sebastianista e propõe reflexão sobre messianismos e a realidade política brasileira
O mito de Dom Sebastião, rei português desaparecido na Batalha de Alcácer-Quibir em 1578, atravessou séculos e oceanos até se reinventar no imaginário popular brasileiro. É dessa travessia entre história, religiosidade e política que nasce o espetáculo “Encantaria”, em cartaz no Teatro de Sobradinho de 8 a 12 de setembro, com sessões gratuitas às 15h (para escolas) e às 20h para o público geral. A classificação indicativa é de 14 anos.
Dirigida por Ricardo César, mestre em teatro pela Universidade de Brasília, a montagem mergulha no universo da encantaria maranhense, tradição religiosa afro-indígena que acolheu a figura mítica do rei desaparecido, ressignificando-a como presença espiritual em rituais de cânticos e danças.
“Começamos a pesquisa do Encantaria ainda no primeiro ano da pandemia, em formato virtual. A ideia surgiu após uma viagem a São Luís do Maranhão, quando eu e o ator Martin Filho descobrimos a lenda de Dom Sebastião. Ficamos sabendo que na encantaria maranhense, por exemplo, as princesas Toya Jarina, Mariana e Erundina são tidas como filhas míticas do rei e se manifestam em médiuns. Tivemos então que investigar esse universo de encantamento, observando músicas, vestuários, o corpo dos participantes nos rituais e, a partir dessas referências, reconstruir cenicamente o nosso trabalho”, explica o diretor Ricardo César.
A peça adota a metodologia do teatro colaborativo, em que atores, diretor e equipe artística constroem juntos a dramaturgia em processo coletivo. “O processo colaborativo é uma forma de trabalhar de forma autoral, em que todos os envolvidos levam propostas e provocações para a cena. É um formato enriquecedor artisticamente porque gera uma verdadeira troca de conhecimentos entre a equipe”, complementa César.
Mais do que revisitar o mito, o espetáculo dialoga com a atualidade ao refletir sobre a criação de messianismos e de narrativas que mobilizam a fé e a esperança do povo. Inspirado em episódios históricos como os movimentos messiânicos do sertão nordestino e a religiosidade afro-brasileira do litoral maranhense, Encantaria convida o público a pensar sobre a construção de falsos salvadores, uma discussão que ressoa fortemente no cenário político e social contemporâneo.
No palco, máscaras, bonecos e
objetos cênicos recriam a atmosfera mística da encantaria, com um espaço em
formato arena que aproxima espectadores e intérpretes.
A partir desse recorte poético e histórico, a montagem leva o debate para estudantes. As sessões são dedicadas aos alunos da rede pública, mas também há espaço para o público que quiser assistir. “Isso é importantíssimo porque colabora para a formação de plateias, estimula os alunos a irem ao teatro e a pesquisar mais sobre a linguagem artística”, destaca Ricardo.
SERVIÇO
Espetáculo Encantaria
Data: de 8 a 12 de setembro
Horário: 15h (escolas) e 20h
(público espontâneo)
Local: Teatro de Sobradinho
Acesso: gratuito
Não recomendado para menores de 14 anos